Uma ideia para 2022: Trabalhar (menos e) melhor
SÉRVULO IN THE PRESS 17 Jan 2022 in Pessoas by ECO
Sempre que se inaugura um novo ano, surgem as inevitáveis resoluções de Ano Novo, plenas de promessas e grandiosas intenções. É na virada de mais uma volta ao sol que se promete ir mais ao ginásio, deixar de fumar, comer melhor e, tantas e tantas vezes, trabalhar menos. Tradicionalmente, Portugal tem sido dos países em que se trabalha mais horas por semana, sem que isso tenha um impacto positivo na produtividade. Em 2018 – a primeira vez que abordei, noutra crónica, este tema – a OCDE colocava Portugal na 26.ª posição (entre 35 posições possíveis) de um ranking que evidenciava o valor que cada trabalhador gerava para o seu país, em função do número médio de horas trabalhadas e do PIB per capita desse país.
Em 2020, a OCDE publicou novo estudo, comparando os números atualizados dos mesmos países em matéria de PIB e de horas trabalhadas e, de forma pouco surpreendente, Portugal caiu da já triste 26.ª posição para o 31.º lugar. Leia-se, se o indicador de produtividade português já era mau, ficou pior. Em Portugal – como em tantos outros sítios – o profissional recebe em função do número de horas de permanência na empresa, desde que pica o ponto à entrada, até que sai para casa. Esse modelo confere pouco (ou nenhum) incentivo para produzir melhor, uma vez que, faça o que fizer, este trabalhador leva tipicamente a mesma fatia salarial para casa.
Ora, se trabalhar muito para produzir mais ainda se percebe, trabalhar mais para produzir (ainda) menos é incompreensível. O ano de 2022 deveria, para mim, ser o ano em que se inverte esta tendência e se criam as condições necessárias para assegurar que a compensação salarial é feita em função do cumprimento de objetivos e não apenas do cumprimento da hora de entrada e da hora de saída do local de trabalho. E se o diagnóstico já não é particularmente novo, então as medidas seguramente que não o são. Soluções como diminuir a carga fiscal sobre o trabalho, aumentar as ferramentas de compensação salarial variável em função do cumprimento dos objetivos, promover um local e horário de trabalho flexíveis e medidas similares resultam num maior alinhamento entre os objetivos (de produtividade e de retenção de colaboradores por parte) da empresa e os objetivos (de compensação salarial, satisfação com o trabalho e conciliação com a vida pessoal) do trabalhador.
Dois anos de Covid serviram para demonstrar, de forma razoavelmente evidente, que funções que antes só se poderiam desempenhar “no escritório”, fazem-se facilmente de outro sítio qualquer. Dois anos de Covid evidenciaram que, afinal, o horário das “9 às 5” não tem de ser ininterrupto, rígido ou sagrado e, se calhar, os colaboradores conseguem cumprir as suas tarefas em horários bem diferentes para o empregador e sem que este sequer sinta a diferença ou sofra prejuízo. Foi preciso uma pandemia à escala mundial para se perceber que, se calhar, um trabalhador excelente não é aquele que apaga a luz ou que fica mais horas seguidas à secretária. Seria uma pena desperdiçar estas importantes lições em 2022.
Leia o artigo de opinião de Inês Palma Ramalho, aqui.